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Biblioteca Apostólica: inaugurado itinerário entre palavras e visões do Jubileu

Teve início, no Salão Sistino, da Biblioteca Vaticana, o evento intitulado “Palavras Abertas”, dedicado ao léxico jubilar para o nosso tempo, em colaboração com o Instituto de Cultura e Formação, Antônio Rosmini. O arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana, Dom Angelo Vincenzo Zani, afirma: “Em um mundo, muitas vezes, fragmentado e diviso, a cultura revela ser um instrumento de compreensão mútua e de paz”.

Amedeo Lomonaco – Vatican News

“Visões, caminho, silêncio, Palavra, inteligência, caridade, humanismo, esperança: eis as oito palavras que marcam o itinerário de “Palavras Abertas: Léxico Jubilar para o nosso tempo”. Trata-se de um evento, dividido em oito encontros, que se prolongará até o fim de 2025, promovido pela Biblioteca Apostólica, uma das mais antigas instituições culturais da Santa Sé, e pelo “Instituto de Cultura e Formação, Antônio Rosmini”, por ocasião do iminente Ano Santo. A palavra “visões” orientou o primeiro encontro, que teve lugar, nesta sexta-feira, 13, no Salão Sistino, do organismo vaticano, que nasceu em pleno Renascimento. O termo “visões”, neste tempo de Advento, em preparação ao Natal e Ano Santo, está interligado, de modo particular, à esperança de poder vislumbrar o caminho mais autêntico para o homem. Na Bula de proclamação do Jubileu de 2025 “Spes non confundit”, o Pontífice recorda: “Olhar para o futuro com esperança equivale também a uma visão da vida, repleta de entusiasmo a ser transmitida”.

Dom Zani: “A cultura é um instrumento de paz”

O primeiro encontro “Palavras Abertas” foi acompanhado por leituras selecionadas e densas reflexões. Ao introduzir o rico debate, o arcebispo Angelo Vincenzo Zani, arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana, destacou: “Os encontros, no âmbito desta iniciativa, visam ‘fortalecer a esperança’ e combinam bem ‘com as atividades da Biblioteca’. Em um mundo, muitas vezes, fragmentado e diviso, a cultura revela ser um instrumento de compreensão mútua e de paz; mas também uma ponte preciosa, capaz de unir diferentes comunidades e sensibilidades, fazendo ressoar no coração de todos a mensagem universal do Jubileu”.

“Este espírito, que sempre distinguiu a Biblioteca Vaticana, continuou Dom Zani, confirma seu serviço à diplomacia cultural da Santa Sé, com seu patrimônio e projetos de pesquisa e, ao mesmo tempo, promove o diálogo intercultural e inter-religioso”.

Em uma entrevista, concedida ao Vatican News, no seu escritório, na Biblioteca Apostólica Vaticana, ao lado de um esboço de Michelangelo, o arcebispo frisou ainda: “Em nosso tempo, abalado por uma desorientação das consciências, as visões de poder ofuscam a razão e a reflexão”.

“Hoje, continua Dom Zani, há muitas relações sociais, culturais e internacionais e situações políticas que não funcionam. Não dispomos de visões estratégicas, mas de visões, a curto prazo, onde entra em jogo o poder e não a razão. Refletir sobre a necessidade de uma visão sólida deve ser nosso ponto de partida”. “A esperança, afirmou ainda, é que o Jubileu possa ser um tempo de visões autênticas. Do ponto de vista humano, passamos por um momento dramático, mas a visão nos ajuda a descobrir o sinal de uma Presença especial. Há sinais de bem ocultos, que, porém, devem ser colocados em evidência”.

Raízes e fermento

No Salão Sistino, onde se realizou o primeiro encontro, tudo evoca o valor da leitura. Neste cenário extraordinário, Padre Mauro Mantovani, prefeito da Biblioteca Apostólica Vaticana, disse: “As palavras abertas são raízes que falam ao nosso espírito. Cada uma das palavras, selecionadas para este encontro, representa uma chave de leitura para ler o nosso tempo e orienta o caminho, não só da Igreja, mas de toda a humanidade.

O professor Rocco Pezzimenti, da Comissão Científica do projeto “Palavras Abertas”, explicou: “Esta iniciativa pretende ser um fermento, um fator de crescimento”. O professor Gennaro Colangelo, diretor artístico de “Palavras Abertas”, recordou o compromisso da Biblioteca Apostólica na diplomacia cultural. O encontro continuou com uma relação da professora Benedetta Papasogli, acadêmica dos Linces, fez uma comparação entre visões e a vida de santos e poetas místicos e, sobretudo, com imagens que representam experiências místicas em diversas épocas.

Leituras e cantos

O pano de fundo das reflexões foram os textos recitados pela atriz, Claudia Gerini, e pelo coordenador cultural de “Palavras Abertas”, o ator Emmanuel Casaburi. As palavras se alternavam com as notas musicais e melodias do maestro, Raimundo Pereira Martinez, músico e cantor pontifício. O confronto literário desenvolveu-se desde a Idade Média até os nossos dias.

Foi feita uma reflexão, em particular, através das palavras de Santa Hildegard de Bingen, falecida em 1179 e canonizada pelo Papa Bento XVI. Nas páginas de seu livro "Scivias" ela dialoga, de modo ideal, com outros grandes autores de grande imaginação. Outras sugestões sobre a palavra “visões” foram dadas pelo poeta Dante Alighieri, que, em seu primeiro Cântico da Divina Comédia, o Inferno, expressou, com palavras surpreendentes, sentimentos semelhantes aos da religiosa alemã. Nos textos lidos do escritor Giovanni Testori, que viveu no século XX, as visões são as que brotaram de uma conversa direta com a morte. As reflexões, ligadas ao nosso tempo, foram expressas nos versos da poetisa, Mariângela Gualtieri, que interpretou a pandemia como um apelo ao mundo, para que detenha a sua corrida cega rumo ao nada.

Palavras e imagens expostas

O primeiro encontro do evento contou também com a exposição de algumas obras, em sintonia com os temas da conferência, entre as quais um Evangeliário, de cerca do ano 1000, que contém as perícopes dos quatro Evangelhos, segundo as festas do Ano litúrgico. Outros tesouros estão contidos em um manuscrito, um dos testemunhos mais significativos do "Liber Scivias", de Hildegard de Bingen, escrito entre 1170 e 1179. Entre as obras expostas destaca-se também o Liber trium virorum et trium spiritualum virginum: a edição, impressa pela primeira vez em Paris, em 1513, reúne escritos de vários autores místicos de diferentes épocas.

A resenha especial continuou com as imagens do Apocalipse de Dürer, um dos maiores exemplos de audácia composicional, nos primeiros anos da história tipográfica europeia. A obra foi publicada em Nuremberg, em 1498, simultaneamente em latim e alemão.

O itinerário da exposição, proposto no Salão Sistina, contou, enfim, com a obra de Tranquillo Marangoni, um dos mais importantes xilógrafos do século XX, sobre as passagens de Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Tais textos e imagens e, sobretudo, “palavras abertas”, são um desafio ao coração humano.

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14 dezembro 2024, 13:56