Papa 2024: o entusiasmo e o sorriso dos jovens em Timor-Leste
Rui Saraiva – Portugal
Em setembro de 2024 teve lugar a 45ª Viagem Apostólica Internacional do Papa Francisco, a mais longa viagem do seu pontificado, visitando a Indonésia, a Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura.
Recordamos aqui o essencial da visita ao jovem país de língua portuguesa, Timor-Leste, uma nação de um milhão e quatrocentos mil habitantes onde quase 98% da população é católica.
Logo no seu primeiro discurso, a 9 de setembro, na cerimónia com as autoridades, ao lado do presidente Ramos Horta, o Papa Francisco pediu que a fé ilumine os projetos e as escolhas dos responsáveis políticos daquele país.
“A fé, que vos iluminou e susteve no passado, continue a inspirar o vosso presente e o vosso futuro. Que a vossa fé seja a vossa cultura, isto é, que inspire critérios, projetos e escolhas segundo o Evangelho”, disse o Santo Padre.
Difundir o perfume do Evangelho
No segundo dia em Timor, a 10 de setembro, o Papa Francisco encontrou-se na Catedral da Imaculada Conceição, em Díli, com bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas e catequistas.
O Santo Padre foi acolhido por D. Norberto do Amaral, bispo de Maliana e presidente da Conferência Episcopal de Timor-Leste, tendo ouvido os testemunhos de quem lutou contra a ocupação indonésia: o padre Sancho Amaral, a Irmã Rosa Sarmento e o senhor Florentino, um catequista de 89 anos. Eles contaram as suas experiências de vida na fé.
A partir destes testemunhos o Papa a todos se dirigiu socorrendo-se de um “episódio de ternura e intimidade” do Evangelho ocorrido na casa dos amigos de Jesus: Lázaro, Marta e Maria. Maria ungiu os pés de Jesus com perfume. Francisco convidou todos os presentes a difundirem o perfume do Evangelho.
“Gostaria de me deter convosco precisamente nisto: o perfume, o perfume de Cristo e do seu Evangelho, que é um dom que vocês têm, um dom que foi dado gratuitamente e que devem guardar e o qual sois chamados a difundir. Guardar o perfume, difundir o perfume”, disse o Papa.
“Vós sois o perfume do Evangelho neste país”, declarou Francisco alertando, contudo, para o facto que este deve ser “guardado com cuidado” como Maria de Betânia o tinha conservado precisamente para Jesus.
“Também nós devemos guardar o amor com que o Senhor perfumou a nossa vida, para que não se dissipe nem perda o seu aroma. O que significa isto? Significa ter consciência do dom recebido, recordar que o perfume não é para nós, mas para ungir os pés de Cristo, anunciando o Evangelho e servindo os pobres”, disse o Santo Padre.
O Papa exortou os presentes a sempre alimentarem a chama da fé. “Não vos descuideis de aprofundar a doutrina cristã, de amadurecer a partir da formação espiritual, catequética e teológica; porque tudo isto serve para anunciar o Evangelho na vossa cultura e, ao mesmo tempo, para a purificar de formas e tradições arcaicas, por vezes supersticiosas”, salientou o Papa.
Francisco pediu que em Timor-Leste a todos chegue o perfume do Evangelho através da reconciliação, da paz e da justiça.
“Também o vosso país, radicado numa longa historia cristã, precisa hoje de um renovado impulso na evangelização, para que chegue a todos o perfume do Evangelho: um perfume de reconciliação e de paz, depois dos sofridos anos da guerra; um perfume de compaixão, que ajude os pobres a reerguerem-se e que suscite o compromisso em levantar os destinos económicos e sociais do país; um perfume de justiça contra a corrupção. E, em particular, o perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, contra o que deturpa, degrada e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela dignidade das mulheres”, declarou.
Na conclusão da sua intervenção, o Papa salientou o belo gesto dos timorenses que quando encontram um sacerdote tomam a sua mão em sinal de bênção. Francisco pediu para que este sinal de afeto não leve os sacerdotes a aproveitarem-se da sua função, mas devem sempre “abençoar, consolar, ser ministro de compaixão e sinal da misericórdia de Deus”.
Através das crianças a proximidade de Deus
Em Dili, na Praça Taci Tolu, o Papa Francisco celebrou Missa para mais de meio milhão de fiéis. Na sua homilia salientou que Timor é um país com muitas crianças e afirmou que a proximidade de Deus se manifesta através de uma criança.
“A proximidade de Deus manifesta-se através de uma criança. Deus torna-se uma criança não apenas para nos maravilharmos e comovermos, mas é também para nos abrirmos ao amor do Pai e nos deixarmos moldar por Ele, para que possa curar as nossas feridas, recompor os nossos desentendimentos, pôr ordem na nossa existência”, disse o Santo Padre.
Liberdade, compromisso e fraternidade
Quarta-feira, 11 de setembro. O Papa encontrou-se com milhares de jovens no Centro de Convenções de Díli, no final da sua visita a Timor-Leste.
Francisco deixou de lado o discurso que estava preparado para os jovens timorenses e manteve com eles um diálogo. Logo no início pediu aos jovens para fazerem barulho testemunhando a sua fé.
Disse aos jovens para não perderem a memória dos sacrifícios que as gerações precedentes fizeram para consolidar o país. “Vocês são herdeiros daqueles que vos precederam fundando esta nação. Por isso, não percam a memória”, salientou o Santo Padre.
Em particular, o Santo Padre lembrou a importância dos idosos para os jovens: “são os avós e os idosos que dão sabedoria aos jovens”, afirmou. E acrescentou ainda que os idosos e as crianças são os maiores tesouros de um povo.
No diálogo com os jovens timorenses, o Papa recordou-lhes que para seguir Jesus é preciso liberdade, compromisso e fraternidade.
Sobre a liberdade, Francisco sublinhou que ser livre não significa fazer o que se quer, mas agir com responsabilidade. “Não percam o entusiasmo da vossa fé. E cuidado com os vícios, porque chegam os chamados 'vendedores de felicidade’. Vendem droga e tantas coisas que dão felicidade por meia hora, nada mais”, frisou o Papa.
Sobre o compromisso, o Santo Padre recordou que Timor tem uma história maravilhosa de heroísmo, de fé, de martírio e, sobretudo, de reconciliação.
A propósito da fraternidade, o Papa afirmou que as diferenças servem para aprender a respeitar. “Diferenças sim, ódio não”, assinalou o Papa que neste seu diálogo deixou bem claro que se sentiu tocado, naqueles dias, pelo sorriso dos jovens de Timor. “Nunca mais esquecerei o vosso sorriso”, declarou Francisco.
Laudetur Iesus Christus
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