O Papa e a Cúria Romana durante a Segunda Pregação do Advento O Papa e a Cúria Romana durante a Segunda Pregação do Advento   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Segunda Pregação do Advento 2024

Na manhã desta sexta-feira (13/12), na Sala Paulo VI, a segunda das três meditações para o Natal do pregador da Casa Pontifícia, sobre o tema “A porta da confiança”. Escolha corajosa, e não mero otimismo, a confiança mantém viva a esperança mesmo nas provações e é um antídoto contra o egoísmo. O exemplo de São José, testemunha luminosa da gratuidade.

Isabella Piro - Vatican News

Em uma época marcada por uma tendência coletiva ao egoísmo, podemos falar de confiança? E nos momentos difíceis da vida, naquelas passagens cruciais em que tememos perder algo imensamente importante, será que ainda podemos confiar em algo e em alguém? Essas são as perguntas subjacentes colocadas no centro da segunda meditação de Advento do Padre Roberto Pasolini, franciscano capuchinho e pregador da Casa Pontifícia, proposta ao Papa e a seus colaboradores na Cúria Romana na manhã desta sexta-feira, 13 de dezembro, na Sala Paulo VI. O tema escolhido para as três reflexões é “As portas da esperança. Rumo à abertura do Ano Santo através da profecia do Natal”.

A segunda Pregação do Advento (em italiano)

A confiança, fundamento das relações humanas

Depois da primeira meditação do dia 6 de dezembro, dedicada à “Porta do estupor”, nesta sexta-feira (13/12) o Padre Pasolini nos convida a atravessar “a porta da confiança”, aquela atitude fundamental que sustenta as relações humanas, alimenta a coragem de enfrentar os desafios cotidianos e abre o nosso olhar para o futuro. A confiança não é um otimismo ingênuo, enfatiza o pregador, "mas uma escolha corajosa que nasce de uma visão profunda da realidade, mantendo viva a esperança mesmo nos momentos difíceis".

O rei de Judá, Acaz

Para testemunhar isso, o Padre Pasolini cita três figuras: o rei de Judá, Acaz; um centurião romano anônimo e São José. O primeiro é o monarca que, durante a guerra sírio-efraimita, não confia no Senhor e, em vez de permanecer firmemente em Jerusalém, conforme instruído pelo profeta Isaías, prefere aliar-se à Assíria, tornando-se seu vassalo. Acaz, em essência, não acredita na providência de Deus, mas, apesar disso, Deus não desvia seu olhar dele, pelo contrário: o momento de desconfiança do monarca abre a profecia de Emanuel: “a virgem conceberá e dará à luz um filho que chamará Emanuel” (Isaías 7:9).

Um momento da pregação na Sala Paulo VI
Um momento da pregação na Sala Paulo VI

O olhar de Deus nos coloca em caminho

Essa confiança na qual Deus permanece perto de nós mesmo quando nos mostramos pouco confiáveis, explica o frade capuchinho, vai além do simples otimismo, porque o Senhor está convencido de que sua voz é “como a chuva e a neve” que não descem do céu sem produzir efeitos na terra. Não somente: sendo desde o início Amor e tendo nos criado livres, Deus está persuadido de que a confiança é sempre o olhar a ser preferido e assumido, porque “somente a confiança nos liberta”. E é justamente o seu olhar que, nos momentos de provação e desânimo, nos permite sair das dificuldades e retomar o caminho. “Deus respeita a nossa liberdade e fica feliz quando a usamos para nos tornarmos semelhantes a Ele”, acrescenta o padre Pasolini, ”Ele respeita essa liberdade mesmo quando escolhemos nos fechar em nós mesmos e no egoísmo. No entanto, se nos afastarmos de seu olhar, Deus não pode desviar seu olhar de nós. Ele continua a nos reconhecer como filhos amados, demonstrando confiança em nossa capacidade de retornar a Ele e a nós mesmos”.

O centurião romano

A segunda figura citada pelo Padre Pasolini é o centurião anônimo do exército romano descrito no Evangelho de Lucas: embora pagão, esse homem decide confiar em Jesus e pede que ele cure seu servo doente. Atento à vida e às necessidades dos outros, o centurião também tenta não colocar o Salvador em apuros, evitando-o, sabendo que um judeu observador como o Salvador se contaminaria ao entrar na casa de um pagão. De fato, ele se dirige a Jesus com uma “frase maravilhosa” que mais tarde foi incorporada à liturgia cristã: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dize uma palavra e eu serei salvo”. Essas palavras, explicou o pregador, expressam uma grande confiança no Senhor Jesus e no fato de ele ser a Palavra definitiva de salvação de Deus.

O Papa Francisco escutando a meditação
O Papa Francisco escutando a meditação

A ligação entre fé em Deus e cuidado com o próximo

O frade capuchinho também destaca outro aspecto: o centurião romano mostra que a fé em Deus e a atenção ao próximo não são “separáveis” ou “assimétricas”. Pelo contrário: “nossa fé em Deus é autêntica na medida em que acreditamos que a confiança e a bondade nunca são supérfluas nos relacionamentos que vivemos”. Não se trata simplesmente de demonstrar alguma cordialidade, mas de“ sempre encontrar o tempo e a maneira de nos colocarmos no lugar do outro”, de seguir o Senhor que nunca nos deixa desconfortáveis, “nem mesmo quando escorregamos no pecado”, porque “é o amor que se aproxima do outro, a luz que sempre brilha, mesmo na escuridão”.

Ser crente significa expandir nossa humanidade

O centurião que confia em tudo e em todos, mesmo em um contexto em que não faltam dificuldades, é a manifestação de uma humanidade “límpida, aberta, saudável, visível”, é “um forte chamado para nós e para nossas jornadas de fé”, nas quais muitas vezes nos encontramos fechados, desconfiados e egoístas”. Ser crente, reitera o Padre Pasolini, significa expandir e aumentar nossa humanidade e bondade amorosa, caso contrário, nos iludimos pensando que estamos “nos refugiando na sombra de Deus para nos permitir ter um pouco menos de confiança” Nele, em nosso próximo e em nós mesmos.

São José, ícone de confiança

O frade capuchinho então se detém em São José - a quem o Papa Francisco dedicou a Carta Apostólica Patris corde - descrevendo-o como “um ícone de confiança” na medida em que ele está disposto a “redefinir-se não a partir de si mesmo, mas a partir das circunstâncias”. Não é coincidência que, em uma sociedade em que as mulheres eram definidas pelos homens, José seja chamado de “o esposo de Maria”. Embora perplexo com a gravidez inconcebível de Maria, ele não reage com raiva, não foge, mas fica e se mantém ao lado dos mais fracos: a Virgem e a criança. José não pede e não faz justiça a si mesmo, reitera o padre Pasolini, mas se ajusta à situação em que se encontra. Longe de qualquer atitude passiva ou renunciatória, ele é, portanto, um exemplo de “protagonismo corajoso”.

Exceder-se no amor

Ao confiar no Senhor, José percebeu algo importante: é necessário amar mais do que ele imaginava. Um ensinamento que também é válido para nós: quando nos encontramos em situações complicadas, observa o frade capuchinho, tomados pelo pânico ou pela raiva, não paramos para pensar, mas apenas tentamos evitar o problema, com medo de “olhar a realidade de frente, porque não gostaríamos de ser forçados a reconhecer nela um chamado para nos envolvermos mais com a vida dos outros”. Colocados nas cordas, “tendemos a querer mudar as circunstâncias”.

A luz de Deus brilha mesmo nos momentos mais sombrios

No entanto, lembra o Padre Pasolini, “o ato mais autêntico de justiça nunca consiste em consertar o que nos incomoda ou o que não gostamos, mas em tentar mudar a nós mesmos, reformulando nossas expectativas de acordo com as necessidades ou dificuldades daqueles que nos rodeiam”. Assim, como São José, nas passagens cruciais e mais sombrias de nossas vidas, quando parece que estamos perdendo algo imensamente importante, Deus sempre ilumina, estimulando nossa criatividade e nos ensinando a não desistir de nossos sonhos, mas a vivê-los de forma diferente.

A castidade, abstenção do egoísmo

Padre Pasolini continua enfatizando um outro ponto: a prontidão encarnada por São José para aceitar a realidade não é outra coisa senão a castidade, entendida não no sentido estritamente físico, mas, em um sentido mais amplo, como abstenção do egoísmo e “a capacidade de permanecer em relação com o outro respeitando seus ritmos e tempos”, “em uma troca de cuidado e atenção mútuos”. “Em uma época marcada por uma maior atenção a nós mesmos, evitando sacrifícios inúteis e prejudiciais à nossa humanidade”, acrescenta o pregador, ”o risco coletivo pode ser o de cair em um egoísmo no qual o outro fica em segundo plano. Isso explica por que tantos caminhos de amor e consagração são facilmente interrompidos”. No entanto, precisamente neste momento da história, todos nós sentimos um profundo desejo de “relações autênticas, enraizadas em um coração livre, como o de José”, que é “uma testemunha luminosa da gratuidade”.

Abraçar a realidade confiando no Senhor

No tempo do Advento, conclui o pregador, o convite é, portanto, para atravessar aquela “porta da confiança” indicada pelos profetas, pelo centurião romano e por São José, porque somente dirigindo o nosso olhar para Deus e encontrando a confiança Nele, em nós mesmos e nos outros, saberemos “ver o bem ao nosso redor” e “abraçar a realidade mesmo quando ela é incômoda e quase repulsiva, tentando não buscar a justiça, mas ajustar o nosso coração”, entendendo como ela pode ser “um espaço de felicidade, porque é o lugar onde o Senhor escolheu estar conosco, para sempre”.

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13 dezembro 2024, 10:52